Basta sair na rua e somos interpelados por diferentes artefatos
midiáticos... Opa, sair na rua? Deixe-me reconfigurar isto. Basta estar em
algum lugar e somos interpelados por veículos de informação e por apelos de
ordem consumista. Nos dias atuais o acesso à tecnologia é muito diferenciado do
acesso que tínhamos a cinco ou dez anos atrás, de forma que seja em casa ou
andando pela rua nosso cotidiano é permeado por diferentes signos da cultura
consumista veiculados, muitas vezes, a partir de elementos da tecnologia.
Muitos aparatos tecnológicos estão de alguma maneira
relacionados a conteúdos midiáticos, em sua maioria, de ordem consumista. Nesta
conjuntura social ‘[...]. O ”consumismo” chega quando o consumo assume o
papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho’.
(BAUMAN, 2008, p. 41). Em casa vemos e ouvimos os apelos midiáticos nos
instigando a consumir a partir de veículos como a televisão e o computador a
partir do acesso a internet. Nas ruas estes apelos ganham maior dimensão com
propagandas em forma de out-doors, colados nos muros da cidade, no centro
comercial, nos transportes públicos, enfim, em tantos formatos e tamanhos. Quando
próximo de datas festivas (muitas elaboradas e impostas nos meios sociais pela
própria mídia) estes artefatos se multiplicam e muitas vezes nos sobrecarregam
de informações.
Em uma dessas andanças pelos caminhos do dia-a-dia nos
causou curiosidade uma propaganda inscrita em forma de imagem em um out-door. Este trazia a imagem de um menino
estereotipado de Funkeiro, com correntes no pescoço, anéis
e um relógio grande que demonstrava ser de ouro. Junto do menino havia uma
mulher sentada em uma poltrona grande e luxuosa, simbolizando um trono. Junto a
esta imagem os dizeres: “Bom mesmo é ser você” e “Mês das mães Gaston”.
A partir disto buscamos
conhecer a propaganda que foi utilizada pela marca para divulgar na televisão
os produtos a serem comercializados.
Nela aparecem inscritas representações de infância e
da figura da mãe. Estereótipos que buscam configurar o que é ser criança e o
que é ser mulher e mãe na sociedade atual. Mais do que objetivar o apelo ao
consumo a partir de produtos ditos “essenciais” para este modelo de mãe-mulher
esta propaganda aporta para um consumo de sentidos e imagens. Afinal, ao sermos
interpelados por propagandas midiáticas não consumimos apenas os produtos a que
direcionam nossos olhares, mas também os sentidos e significados implicados na
forma de ser-representar das propagandas. A partir destas percepções
incorporamos, em diferentes medidas, a nossas identidades características
vendidas pelos discursos impostos explicitamente e/ou entre linhas nas
propagandas e demais programas televisivos. Nesse sentido Bauman (2008)
complementa esta discussão ao demarcar que
Os membros da
sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo, e é a qualidade de ser uma mercadoria de consumo que
os torna membros autênticos dessa sociedade. Tornar-se e continuar sendo uma
mercadoria vendável é o mais poderoso motivo de preocupação do consumidor,
mesmo que em geral latente e quase nunca suficiente. [...]. (p. 76) [grifos do
autor]
Nesta compreensão surgem no convívio social sujeitos que nada
são e que ao mesmo tempo podem ser/ter várias identidades. No espaço-tempo
atual a cultura infantil e as crianças são permeadas por diferentes concepções
em relação ao seu lugar em nossa sociedade. Por um lado, as crianças ainda são
percebidas como seres inocentes, reprodutores de informações, por outro, são
vistas como grupo consumidor, com potencial de compra, que seleciona os
produtos comercializados segundo seus interesses e desejos. Estas percepções
aparecem misturadas no comercial analisado ao endereçar sua proposta à criança
com o papel de filho considerando-a sujeito com extenso potencial de compra e
sujeito central para comprar um produto endereçado também às mães.
Ao utilizar diferentes linguagens (música, cores, elementos de
cenário, expressões faciais e corporais dos protagonistas da propaganda, etc.)
a propaganda aqui analisada traz dois sujeitos centrais para endereçar seus
propósitos: o sujeito filho e o sujeito mãe. Entretanto não estrutura
diferentes objetivos a cada um. A ordem ainda é a mesma. Consumir. A partir
destas percepções ficam as perguntas para constantes reflexões: O que temos
consumido? Em que medida somos educados pela mídia? Quantos ‘rótulos’ já
compramos?
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro. Zahar, 2008
Elisângela e Renata.